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OSSAMA

Anísio Homem

 

Do ruído molecular
da entranha mais estranha

do linguajar mais lacônico
e icônico ruminando na fresta óssea do tempo

eis ossama

eis a cromação da luz 
em planetas 
em absintos de florestas
em lascas de instrumentos
em inscrições rupestres no cerebelo da espécie

eis ossama 

eis o Cro-Magnon datilografando 
seus espermas na crosta fina dos DNAs


eis ossama

O tempo presente também tem osso duro de roer
tem as majestades imperiais 
vivendo dentro das bolhas/bolsas
de valores discutíveis 


tem os intangíveis generais 
e suas fábricas de fraturar ossos
e arruinar nações

eis ossama

ossama purga 
ossama geometriza
faz o boca a boca 
e reativa a respiração do homem
para que continue a recitar seu abecedário
(salar/salário/éden/calvário)
formando o nome de planetas
dando nome às descobertas

eis ossama

ossos do ofício
de um poeta que quer meter a mão na vida, 
nos rastros mais fundos de seus restos,
de suas mensagens medidas a carbono 14,
na escavação escalavradora dos dedos,
na pretensão mais profana de Darwin,
na exumação mais ardorosa de Da Vinci

eis ossama

a poesia 
de sobreaviso
para o devir

 



          Curitiba, 20 de março de 2017

Anísio Garcez Homem publicou os livros "Golondrinas" (1991),

"O homem que não podia se mover" (2004) e "O assassino que mutilava Leminski" (2014).  Vive em Curitiba (PR).

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