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       Jornal Diário Catarinense, Florianópolis, 9 de novembro de 2020 

         

       ENTREVISTA COM O POETA DENNIS RADÜNZ

 

        Carlos Henrique Schroeder

 

    

   Um dos lançamentos mais aguardados do ano, Ossama: Último Livro (Letras contemporâneas/Editora da Casa, 80 páginas,), do poeta catarinense Dennis Radünz, já tem previsão para chegar às livrarias: final de novembro. Com posfácio do professor-doutor e pesquisador Raul Antelo e reproduções da artista Julia Amaral, a obra reúne 31 poemas "desenterrados" entre 2007 e 2016, todos com uma visão ácida do presente e a musicalidade incomum do poeta. Radünz nasceu em Blumenau, no Vale do Itajaí, e vive na Ilha de Santa Catarina. Publicou os volumes de poemas Exeus (1996, 2ª. edição: 1998), Livro de Mercúrio (2001), Extraviário (2006) e o livro de crônicas Cidades Marinhas: Solidões Moradas (2009). Conversei com Dennis sobre o livro, mas também sobre o papel da poesia nos conturbados dias de hoje (dominados pelo utilitarismo).

Ossama

"Ossama é um brasileirismo que significa, literalmente, porção de ossos, como se esses poemas – que versam sobre autoritarismos, burocracias, consumismos e desaparição – tivessem sido escavados no que nos restou da civilização: um museu-mundo", explica o poeta. E observa: "Falar de ossos é falar de vida, porque são os ossos que nos levantam e nos mantém erguidos". Segundo Radünz, "os poemas de Ossama procuram camadas mais profundas sob as aparências: por exemplo, uma cédula de cinquenta cruzados novos, com o rosto de Drummond, apesar de caída em desuso, é um objeto pleno de poesia".

 

Grau zero

"Ossama é o quinto e, na minha leitura, o meu livro mais sofisticado, porque a música e a imagem estão mais conjugados. É o "último livro" no sentido de livro novo e mais recente; no sentido de livro final – porque imagino outros meios para poesia – e de livro "extremo", derradeiro, terminal, porque os poemas, mais politizados, podem ser lidos contra o anti-clímax presente. Encerra a fase "branca", quase anônima da minha vida, quando estive dedicado à universidade e à política pública de cultura. "Ossama" é o livro da segunda nascença: espécie de grau zero do que pretendo vir a ser como um novo escritor."    

Poesia em tempos utilitaristas 

"Os poemas todos não têm nenhum uso e, portanto, para o senso comum, não possuem valor. Mas a maioria das pessoas – no Brasil e no mundo – não atribui valor às ciências humanas e aos direitos civis, o que significa que o "desuso" da poesia é sua forma de resistência, fora da fantasia do mercado, no mesmo lugar onde estão as ações humanas sem servidão e sem lucro: lugar da livre respiração, porque poesia é respiro."

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